Inefável

A única coisa sobre ti,

que eu ao menos consigo vislumbrar

é que, entre todas as espécies de beleza,

tu és a bela

Sem embargo,

a tua natureza, ao que percebo,

impede-me de expressar sobre aquilo

que há de mais esplendoroso ao teu respeito

Descubro, neste momento,

quão simplórias são as palavras

Elas se curvam diante de teu ser

e, silentes, fazem com que o logos

se assemelhe a mero sujeito taciturno

De estrutura indizível e inexplicável,

tu és o universo,

cuja representação imagética transcende à cosmogênese,

bem como à cosmolologia

Afinal,

submerso pelo paradoxo que tu me concedeste,

sou forçado a me calar

Digo, sou obrigado apenas a dizer

que não há termo que possa te nomear,

tampouco possível de exprimir-te através de qualquer discurso

Deslumbrado,

o que me resta é, simplesmente,

a contemplação

O tácito descortinar

Cegos e ignorantes são aqueles simplórios indivíduos

que, por um processo de redução ao sensível,

tentam te enxergar com os olhos carnais;

não sabendo eles que o teu ser

se manifesta somente àqueles poucos

que te procuram através das argúcias d’alma

Círculo é o que te caracteriza

e tu simbolizas o nosso firmamento

Sinônimo de eternidade,

o teu ser sempre flerta com o Divino e,

a partir desse encadeamento,

germina o Amor em sua plenitude

Liame és também

para aqueles que de ti participam:

os singelos mortais que, por um esforço maior,

conseguem ao menos vislumbrar

a beleza existente em tua essência