Preto

Jogaram-me inúmeras pedras,

mesmo providos de erros

Arrancaram-me minhas ascendências,

fizeram dos meus dias enterros

Sequer me deram condolências

 

Trataram-me como um sem-alma, nojento

Misturaram-me com os animais,

por causa de um acidente em meu pigmento

Herança de meus povos ancestrais

 

Vejam o que fez um mesquinho pensamento

dotado de seu próprio ídio

Era sem nenhum pudor e lamento

que cometia seu genocídio

 

Muitas eram as tormentas

Muitos eram os gritos de “parem com isto!”

Mas o mesquinho pensamento insistia,

dizendo que fazia em nome de Cristo

 

As culturas que, por ora escravizadas,

Céu e Inferno não cultuavam

Mas recebiam as incicatrizantes chicotadas

em nome do Soberano que aqui pregavam

 

Não tinham escapatória,

eram insultos a todo lado

Cuja cor, pois, que em mim manifestava

Era símbolo de pecado

 

Vejam o imbecil que é

o homem, aqui, minha gente!

Diante das inúmeras atrocidades,

considera-se um ser inteligente

 

 

Noite

Quão sombria é a noite,

muitos segredos ela desvela

Basta findar o crepúsculo,

que a mesma se revela

 

Desde mui pequenina

a criança tem medo dela

O poeta, ao contrário,

a tem como bela

 

Seja quente ou ventilada,

abafada ou ela fria,

a fama da polêmica noite

será sempre sombria

 

Quando a noite vai embora,

a aurora logo vem

O medo logo passa

e eu me sinto mui bem

 

Mas a noite muito serve,

muitos ensinamentos ela nos dá

Proporciona-nos o espaço,

e resposta a muitas de nossas indagações nos revelará