Refluxo

Eu preciso remoldar a minha alma,

a fim de dar uma nova forma

e alcançar os benefícios

por mim apetecidos

 

Terei de voltar à perdida infância,

porquanto acredito que seja ela o lugar

onde depositaram as qualidades

que me deixam desconcertado

 

Não sei como,

mas sinto a necessidade em esvaziar-me de mim mesmo

Assim,

quiçá poderei expurgar as sujidades

que insistem em me constituir

 

Encontrando-me já em pleno frívolo vazio de minha puerícia,

farei com que esta seja

novamente preenchida… E com aquele escrete que será por mim selecionado

 

É que eu nunca quis “ser aquela velha opinião formada sobre tudo”,

mas vejo que “essa metamorfose ambulante”

é um arranjo que

também não melhor me compõe

 

Paradoxo Poético

Ó Aristócles!

Será que tu estavas certo,

ao querer expulsar o poeta

de tua utópica cidade?

 

Porque a poesia fora institucionalizada,

às vezes, eu me questiono

se ainda vale a pena germiná-la

Para tanto, estabeleceu-se

um método e,

aquele que resolver não segui-lo,

corre um sério risco

em ficar de fora

 

Sinto-me tomado pelo apocalipse,

cujo paradigma,

estabelecido à produção poética,

sinaliza o alegórico sinal da divina Besta

 

É torturante, para mim,

saber que eu,

ao querer materializar os meus alentos,

estarei execrado a corrompê-los

 

Com isso, infeliz(mente),

a cada noite,

obscurecerei e internalizarei,

mais ainda,

os meus monstros, os meus demônios