Meditação existencial

Não sei se há uma plenitude para a vida humana
Por outro lado, estou certo de que, no momento,
estou preenchido por um completo vazio

Mas vazio do quê,
uma vez que não sei as qualidades que nos preenchem
e fazem com que cheguemos à conclusão
de que estamos experimentando uma vida plena?

Este vazio, quiçá, seja a consciência
de que caminhamos, sozinhos,
para a finitude da vida

Mas será que a finitude da vida representa
o fim da alma humana,
ou seria apenas a imensidão inicial
de um novo ciclo de nosso âmago?

Não sei
Assim, sigo a vida sempre refletindo,
não sobre esta,
mas acerca da morte


Prenda

Aprenda a persuadir a argúcia

e a manipular a palavra,

de modo que alguém seja exortado

e neste labirinto se prenda,

ao ponto de confundir tal lexia

com uma prenda

De étimo incerto,

seu morfema tem raízes fincadas e firmadas

no mais íntimo e irresoluto

das hipóteses

Mas delimite e limite,

ao mínimo, os recintos do charmoso Dôron

Assim, suponha que tenha dois gumes:

o primeiro,

de qualidade gentil e airosa,

arrebatará o olhar d’alma ao venusto característico

de uma formosa princesa

O outro,

trata-se do próprio gládio que,

acaçalado e perspicaz,

penetrará, impiedosamente, o espírito;

fazendo com que sejam extravasadas pela sangria

todas as paixões

Se, por cautela,

alguém tenha tomado de empréstimo e carregado,

desde o início,

o novelo que a Ariadne concedeu ao Teseu,

certamente sairá do promíscuo labirinto

que a Prenda o envolveu

O difícil é,

uma vez dentro, manifestar em qualquer pessoa

o desejo em sair

Romantize e se torne-se, com isso,

um entusiasta refém do belo Condão